quarta-feira, 27 de julho de 2011

QUEM DISSE QUE VOCÊ NÃO É UM PASSAGEIRO PAGANTE?


Quando viu o aluno de escola pública tomar assento no ônibus, o cobrador gritou de lá: 
- Hei, deixe a vaga para um passageiro pagante!

O menino dócil, sem palavras nem expressões de qualquer desagrado se levantou. Deu lugar a um homem robusto e de olhar grave, que já esperava por isso. Talvez fosse aquele, o motivo da ordem do cobrador.

Muitos outros passageiros aprovaram a cena, o que é previsível, pois parece que a sociedade não gosta dos estudantes. Aliás, neste país em que os jovens se tornam a menor parte, cresce o desejo de superá-los. Parece que os mais velhos culpam a juventude pela escassez de oportunidades que os atinge. Pelas covardias que o poder público lhes impõe, quando já trabalharam por muitas décadas e o corpo implora um descanso. Cobram dos mais novos, especialmente dos estudantes, o preço dos direitos que a oficialidade lhes nega.

O que a sociedade grisalha - que também componho - não enxerga é que os estudantes não são os culpados por suas desventuras. Eles não ocupam nossas vagas no dia a dia, nas empresas, nos clubes, nem mesmo nas conduções... Muito menos nas escolas. Se muitos de nós não estudamos na idade certa, devemos culpar os governantes de nossas épocas. Igualmente os nossos pais, que se acomodaram pela pressa de nos verem trabalhando como adultos, por necessidade ou não, sem qualquer tempo para os estudos.

Quanto à vaga na condução - aquela que não é destinada por lei, aos idosos, às gestantes e aos portadores de necessidades especiais -, cabe à consciência do estudante, do não estudante ou da pessoa de qualquer idade, com força e saúde, cedê-la para quem não goza dos mesmos atributos, definitiva ou temporariamente. Cada estudante precisa saber, para não ser tratado como lixo pelos motoristas e cobradores, que a sua passagem é paga, sim. O governo reembolsa as empresas pelo cumprimento da lei que lhe dá o direito às viagens de ida e volta sem ele ter que
pagar de forma direta. 

Se as passagens dos estudantes não fossem pagas, eles não teriam que ter passe escolar. Esse passe escolar, bem como o passe idoso e outros, mas estamos falando dos estudantes, serve para registro e prestação de contas. O que se pode cobrar do utilitário é que o mesmo seja correto na sua utilização: Nas horas certas, nos trajetos casa- escola/escola-casa, sempre uniformizado. Estando com razão, ele pode rebater dizendo que é pagante, sim, que a empresa recebe pelo seu passe. É claro que a sua resposta deve ser polida, com bons modos, ao melhor estilo estudante. Seu tom de voz não deve ser o mesmo tom grosseiro dos cobradores, motoristas e outros atendentes frustrados porque lhes faltou escola.

O mundo não é de alguns. Tem vaga para todos. Cada ser humano deve ocupar a sua, e não usurpar nem impedir a vaga do outro.

Todos nós pagamos um preço, justo ou não, para viver... Mas pagamos, e como pagantes que somos, fazemos jus ao nosso lugar na sociedade. 


Demétrio Pereira Sena

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